quinta-feira, 22 de abril de 2010

HISTÓRIA DA RURAL



Sem escolher caminho

Derivada do indestrutível Jeep, a Rural e o Pickup
Willys ajudaram a desbravar nossas estradas

Ao término da Segunda Guerra Mundial, a Willys-Overland Company, empresa americana fundada em 1907 (saiba mais), buscava novas aplicações para seu famoso utilitário Jeep. A idéia era criar uma carroceria mais convencional, a ser montada sobre a mecânica do fora-de-estrada, dando origem ao que os anúncios apresentavam como o Victory Car, o Carro da Vitória.

Dificuldades diversas, porém -- a maior delas, acredita-se, era a grande demanda que os fabricantes de carrocerias mal podiam atender --, levaram o projetista do Carro da Vitória, Brook Stevens, a desistir do projeto e procurar uma alternativa. Stevens definiu-se por uma inovação: uma perua, com o máximo de componentes comuns ao Jeep e carroceria integralmente fabricada em aço. Isso ainda não existia nos Estados Unidos, onde as peruas eram elaboradas com estruturas de madeira adicionadas a sedãs.

Lançada em 1946, a Jeep Station Wagon era montada sobre um chassi de 104 pol (2,64 metros) de distância entre eixos e baseava-se em linhas retas, para simplificar o estampagem da carroceria. Os pára-lamas retilíneos eram os mesmos do Jeep militar e, para criar a impressão das conhecidas carrocerias de madeira, a única cor disponível era vinho com as laterais em creme e painéis em marrom-claro.

Simplicidade, robustez e economia eram seus pontos altos. Levava sete passageiros com um comprimento total de 4,78 metros ou, se os bancos traseiros fossem retirados, mais de 2.700 litros de carga. O porta-malas tinha piso plano e a porta de acesso dividida na horizontal, uma parte se abrindo para cima e outra para baixo. A ausência de madeira facilitava a conservação da carroceria e a suspensão dianteira, idealizada pelo chefe de engenharia Barney Ross, empregava um sistema de sete lâminas transversais, lembrando um projeto seu para a Studebaker na década de 30.

O motor era o mesmo do sedã Americar de antes da guerra, de quatro cilindros, 2,2 litros e cabeçote em "F" (válvulas de admissão no cabeçote e de escapamento no bloco), claramente subdimensionado. Apenas 63 cv e 14,5 m.kgf, ambos valores brutos, lidavam com um peso 300 kg maior na perua, levando-a com esforço a 105 km/h de velocidade máxima. O câmbio de três marchas logo recebia um overdrive, mas a tração permanecia apenas traseira -- só em 1949 seria oferecida a perua 4x4, com feixes de molas semi-elíticas convencionais na suspensão dianteira.

Em 1947 aparecia o Sedan Delivery, uma versão furgão da perua, sem as janelas laterais posteriores, com duas portas traseiras que se abriam para os lados e banco apenas para o motorista. No ano seguinte chegavam uma versão de luxo, a Station Sedan, e novas cores. Boas novidades eram os bancos mais confortáveis e a opção do motor Lightning (relâmpago) de seis cilindros em linha e 2,4 litros, com potência bruta de 72 cv, que melhorava bastante o desempenho

Uma nova grade frontal era adotada em 1950. A proposta da perua, porém, permanecia a de um espartano utilitário e não mudaria com a absorção da Willys pela Kaiser-Frazer Corporation, em 1953. Apenas detalhes de acabamento e pintura em dois tons ("saia-e-blusa") seriam introduzidos de início.


A nova fase trouxe algumas evoluções, como o motor Hurricane (furacão) de seis cilindros e 115 cv brutos, em 1954, que equipava há sete anos os automóveis da Kaiser. Versões para fins específicos passaram a ser oferecidas, como uma de seis portas, entreeixos longo e três fileiras de bancos, para serviços de hotéis e aeroportos. Em 1960 o pára-brisa vinha em uma única peça e, dois anos após, tanto a Station Wagon quanto o furgão Sedan Delivery eram descontinuados.

Versão brasileira A versatilidade e a robustez da Jeep Station Wagon chamavam a atenção da Willys-Overland do Brasil S.A., fundada em São Bernardo do Campo, SP em 26 de abril de 1952. A empresa montava desde 1954 o Jeep Universal (já com capô alto, devido ao motor com cabeçote em "F") e oferecer uma perua dele derivada, mantendo suas qualidades de resistência, seria ideal para um país com vias de tráfego tão precárias quanto o nosso.

Em julho de 1956 a Rural começava a ser montada aqui, com peças importadas e o mesmo desenho do modelo americano. A pintura "saia-e-blusa" (verde e branca, vermelha e branca ou azul e branca) dava um toque de charme a um utilitário rústico, com suspensões dianteira e traseira de eixo rígido com molas semi-elíticas, câmbio de três marchas com redução e tração 4x4. O motor a gasolina, de seis cilindros em linha e 2,6 litros, entregava modestos 90 cv brutos.

Três anos depois era adotado um motor nacional, fabricado em Taubaté, SP. Em 1960, aproveitando a oportunidade da nacionalização completa dos componentes, a Willys redesenhava sua frente para adotar um estilo próprio, exclusivo para o Brasil. Larga e agressiva, há quem diga que ela se parece com a estrutura frontal do Palácio da Alvorada, em Brasília, se vista invertida. Vinham também o pára-brisa e o vidro traseiro inteiriços, como no modelo americano.

O sucesso da Rural não demorou a vir, tornando-se um veículo muito desejado. O mercado nacional era escasso de opções, havendo apenas a Volkswagen Kombi com capacidade de transportar uma grande família, ou um grupo de trabalho, por terrenos acidentados. Tornou-se comum ver a perua da Willys em frotas de serviços e também no uso urbano. Em 1961 era introduzido o Pickup Willys
O uso familiar, longe dos atoleiros, tornava-se mais freqüente com o lançamento, em 1964, da versão 4x2: tinha a alavanca de câmbio na coluna de direção e suspensão dianteira independente, com molas helicoidais, para um rodar mais confortável e melhor estabilidade. "Curva fechada não existe para ela", dizia a publicidade.

Outros aprimoramentos vinham de tempos em tempos. Em 1965 ganhava limpador de pára-brisa elétrico (não mais a vácuo), outra grade na versão 4x2 e câmbio de três marchas com a primeira sincronizada -- uma vantagem nos subidões, por não ser preciso habilidade para engatá-la quando a segunda não dava conta do recado. Um ano depois, alternador no lugar do dínamo, carburador recalibrado para menor consumo e roda-livre para a 4x4. Novo painel de instrumentos, trava de direção, nova grade e câmbio de quatro marchas sincronizadas vinham em 1967. Continua

Apesar da aquisição da Willys pela Ford, no mesmo ano, a linha Jeep foi mantida por longo tempo -- ao contrário dos sedãs Aero-Willys e Itamaraty, que saíram de produção pouco depois. Para 1969 havia duas versões, Luxo e básica, sempre em duas cores, e nova coluna de direção para a Luxo 4x2 (a mesma do Aero). No ano seguinte era introduzido o motor do Itamaraty, de 3,0 litros e carburador de corpo duplo, ainda com cabeçote em "F".

Com potência bruta de 132 cv, levava-a a cerca de 120 km/h e era o mesmo que, com "118 modificações", segundo a Ford, seria usado em 1973 no Maverick. Mas nesse ano vinha a crise de petróleo e a Ford teve de desenvolver um motor mais econômico para o carro, que acabou sendo adotado também nos utilitários em 1975. O quatro-cilindros de 2,3 litros, com comando de válvulas no cabeçote, este de fluxo cruzado, era bem mais leve e oferecia melhor desempenho mesmo com potência inferior, 90 cv.

Mas a Rural -- renomeada Ford Rural desde 1972 -- estava envelhecida, com quase três décadas de mercado e a concorrência de outras grandes peruas, como a Chevrolet Veraneio, embora bem mais cara. Sua produção chegava ao fim em 1977, permanecendo o picape e o Jeep por mais cinco anos.


Pelo mundo afora

Além da Argentina, onde se chamava Estanciero e era produzida pela IKA (Indústrias Kaiser de Argentina), com a mesma frente da nacional, e dos EUA, a Rural foi fabricada também na Ásia. No Japão era o J-34 da Mitsubishi até o início dos anos 70, um precursor dos atuais Pajeros. Na Índia era feita pela Mahindra, que ainda produz sob licença o Jeep Willys e seus derivados

Ficha técnica

_ Motor 2,6 Motor 3,0

MOTOR

Posição e cilindros longitudinal, 6 em linha
Comando e válv. por cilindro no bloco, 2
Diâmetro e curso 79,4 x 88,9 mm 79,4 x 101,6 mm
Cilindrada 2.638 cm3 3.014 cm3
Taxa de compressão 7,6:1 8:1
Potência máxima bruta 90 cv a 4.400 rpm 132 cv a 4.400 rpm
Torque máximo bruto 18,6 m.kgf a 2.000 rpm 22,2 m.kgf a 2.000 rpm
Alimentação Carburador de corpo simples Carburador de corpo duplo

CÂMBIO

Marchas e tração 4, traseira ou integral

FREIOS

Dianteiros e traseiros a tambor

SUSPENSÃO

Dianteira independente, triângulos inferiores e braços
simples superiores, molas helicoidais (4x2)
Traseira eixo rígido, molas semi-elípticas

DIMENSÕES

Comprimento / entreeixos 4,596 m / 2,654 m
Peso 1.530 kg (4x2)

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